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sexta-feira, 22 de março de 2013

Pior estiagem dos últimos 50 anos causa prejuízos no interior da Bahia


O produtor rural Humberto Miranda Oliveira, de Miguel Calmon (360 quilômetros de Salvador), já perdeu mais de 20% do seu rebanho. Parte da culpa é da pior seca que a Bahia já viu nos últimos 50 anos. 

Para se manter em um ambiente hostil como esse, o produtor rural simplifica a solução encontrada: “É uma vaca comendo a outra. Todo mês, temos que vender duas ou três vacas para sustentar o restante do rebanho”. 

Seca: estima-se que 30% dos produtores rurais deixaram o interior baiano para trabalhar em outros estados

Em uma tentativa de chamar a atenção para a situação, a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb) marcou para a próxima terça-feira (26), em Salvador, uma reunião com mais de 40 sindicatos rurais de todo o estado. 

Também presidente do Sindicato Rural de Miguel Calmon, Oliveira lembra que são os médios e pequenos produtores que estão sofrendo mais. “Nos pequenos povoados dos arredores de Miguel Calmon temos as viúvas dos maridos vivos”, relata. Isso porque os pequenos produtores, que tinham entre 15 e 20 cabeças de gado, ou tiveram que vender seus animais ou os viram morrer. O resultado é que os homens do campo estão deixando a família na Bahia e indo cortar cana em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

“Os pequenos produtores rurais que ainda estão aqui estão endividados e sem seu patrimônio original. É como se você tivesse perdido o seu carro e seu apartamento”, exemplifica Oliveira sobre a perda de um patrimônio de toda a vida.

O presidente da Faeb, João Martins da Silva, dá outro exemplo do cenário da seca na Bahia. Segundo ele, os médios produtores estão virando pequenos e os pequenos estão desaparecendo. “Seus animais morreram e eles foram liquidados. Não tivemos o amparo de ninguém. Nem do governo federal, nem do estado”, acrescenta Silva sobre os pequenos produtores. 

Burocracia
Sobre  empréstimos oferecidos pelo governo, Silva diz  que a burocracia é grande e, quando eles são concedidos, o gado ou a safra já não resistiu. “Se você me perguntar se eu acredito que a reunião irá resolver algo, eu acredito que não. Mas precisamos fazer esses produtores exporem seus problemas”, desabafa. 

A seca está atingindo agora seu grau máximo, porque as chuvas esperadas até o fim deste mês ainda não vieram.

Na carta divulgada ontem chamando a sociedade para o encontro, a Faeb questionou as promessas políticas: “Em 2012, quando a situação já era bastante grave, foram anunciadas várias medidas emergenciais, com obras como barragens subterrâneas, poços e implantação de reservas estratégicas de alimentos. 

Em nome dos produtores do semiárido baiano, questionamos: onde estão esses poços? Quantas barragens foram construídas? Quantas pessoas foram beneficiadas? Onde estão essas obras emergenciais? O que está sendo feito de concreto?”. 

Ainda não há estimativa dos prejuízos, mas Silva exemplifica que o gado antes vendido por R$ 1.800 está saindo por R$ 600, um terço, portanto. 

Governo Segundo o secretário da Agricultura, Pecuária, Irrigação e Reforma Agrária do estado (Seagri), Eduardo Salles, muito foi feito, mas “nunca vai ser suficiente em função da dimensão da seca”. Segun do ele,  o governo estendeu de 6 mil pessoas atendidas pelo seguro-safra, em 2006, para 220 mil pessoas atendidas no último ano. O seguro é de R$ 1.520 e ofertado ao agricultor que perde toda a produção.

Salles também lembrou que o governo ganhou R$ 22 milhões para a construção de barragens subterrâneas. Agora, estariam na fase de comprar as retroescavadeiras para cada município construir a sua própria barragem.
“Estamos com recursos para a doação de 40 mil ovinos e caprinos. Só não fizemos essa doação ainda porque sabemos que, nas condições atuais, os animais morreriam de fome”, comentou. O secretário prometeu estar presente na reunião para discutir com os produtores. A Casa Civil do governo do estado, responsável pelas ações emergenciais, não comentou o assunto.

Prejuízos
O produtor de leite José Rocha Pires Veloso, de Jacobina, viu sua produção cair de mil litros por dia para 300 litros e não consegue visualizar uma estratégia para sair dessa situação.

 “Não acredito em nenhuma atitude efetiva. Só mesmo se vier a chuva. Só uns 10 anos para reavermos o que perdemos nessa seca. Acredito que já estamos em uma situação de calamidade”, diz. Dos seus 12 funcionários, hoje só sobraram três.

No último balanço, publicado no dia 9 de março, o governo decretou Situação de Emergência em 214 municípios por causa da seca.